BRASÍLIA - O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta quarta-feira (4) a abertura de novo inquérito contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) para apurar "suposta prática dos crimes de coação no curso do processo e obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa".
A decisão ocorre após a deputada do PL anunciar na terça-feira (3) que fugiu do Brasil e que o destino final é a Itália. Ela afirmou que está nos Estados Unidos para fazer tratamento médico, mas que vai se basear na Europa. "Como cidadã italiana, sou intocável na Itália, não há o que ele possa fazer para me extraditar de um país onde eu sou cidadã, então eu estou muito tranquila quanto a isso", disse, em entrevista à CNN.
No pedido sobre a nova investigação, Alexandre de Moraes também mandou que a Polícia Federal monitore e preserve o conteúdo postado nas redes sociais da parlamentar ou de terceiros com ela relacionados, que guarde pertinência com esta investigação. Além disso, deu prazo de 10 dias para a oitiva de Zambelli.
“As diversas entrevistas da ré, em 3/6/2025, indicam que a sua fuga do território nacional se reveste, além da tentativa de impedir a aplicação da lei penal, também, na reiteração das condutas criminosas de atentar contra as Instituições, por meio de desinformação para descredibilizar das instituições democráticas brasileiras e de interferir no andamento de processos judiciais em trâmite nesta Corte", diz Moraes no despacho.
O magistrado citou entrevista que a parlamentar deu para a Rádio AuriVerde Brasil, em que afirmou que vai “ voltar a ser a Carla que (...) era antes das amarras que essa ditadura nos impôs”, segundo ele, afirmando expressamente sua intenção de fugir da aplicação da lei brasileira.
“Tenho cidadania italiana e nunca escondi, se tivesse alguma
intenção de fugir eu teria escondido esse aporte. (...) Como cidadã italiana eu sou intocável na Itália, não há o que ele possa fazer para me extraditar de um país onde eu sou cidadã, então eu estou muito tranquila quanto a isso”, disse ela.
Moraes apontou ainda que ela anunciou que transferiu as suas redes sociais para a sua mãe, "para instrumentalizá-la e voltar a propagar notícias fraudulentas sobre o processo eleitoral no Brasil, inclusive no que diz respeito às alegações infundadas de ausência de confiabilidade das urnas eletrônicas".
“Sinceramente eu acredito que Eleição - agora eu posso falar com mais tranquilidade - a gente sabe muito bem porque eu perdi, porque Bolsonaro perdeu, porque não foi eu que ajudei ele a perder. Não foi eu que incentivei. Não dá para a gente acreditar em pesquisas no nosso país, porque elas são manipuladas. E não dá para a gente acreditar em urnas eletrônicas. As urnas não são confiáveis”, afirmou Zambelli, na entrevista.
Além disso, segundo Moraes, a deputada afirmou que adotará o mesmo modus operandi utilizado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), investigado no STF pelos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
O ministro decretou nesta quarta-feira o pedido de prisão preventiva de Zambelli e a inclusão do seu nome na lista de difusão vermelha da Interpol, atendendo a solicitação da Procuradoria-Geral da República.
No dia 9 de maio, a parlamentar foi condenada pelo STF a 10 anos de prisão pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ela também responde a um processo por porte ilegal de arma de fogo por ter perseguido um jornalista armada na véspera das eleições de 2022. Nesse caso, já há maioria no Supremo para condená-la.