Como o tempo voa! Voa mais rápido que os foguetes da NASA. Lá se vão 55 anos desde o dia 16 de julho de 1969, relembrados anteontem, quando Neil Armstrong pisou na Lua e encheu os habitantes do planeta Terra de orgulho. Eu trabalhava na TV Cultura de São Paulo e dividia uma quitinete do Copan com dois amigos. Um deles trouxe da rua um desses espumantes adocicados horrorosos e brindamos, emocionados, acompanhando o pouso lunar numa pequena e instável TV preto-e-branco, ouvindo Sinatra cantando “Fly me to the Moon”.

Fato emocionante, mas que também levantou dúvidas. O zelador do prédio, que se dizia comunista, não acreditou na conquista; afirmava ter sido tudo uma grande farsa montada nos estúdios de Hollywood para fazer inveja aos russos. E foi exatamente sobre essa frequente balela dos incrédulos que o diretor Greg Berlanti dirigiu um dos mais divertidos filmes atualmente em cartaz – “Como Vender a Lua”.

Embora já viesse ascendendo numa carreira brilhante desde os anos 1990, creio que só prestei atenção ao talento e à beleza de Scarlett Johansson em “Encontros e Desencontros” e “Moça com Brinco de Pérola”, ambos de 2003. Daí virei fã e fiz questão de ver tudo dela, inclusive algumas besteiras de ficção científica e super-heróis, roteiros previsíveis e cheios de computação gráfica nauseante para atrair adolescentes e vender pipoca; papéis que ela provavelmente só aceitou para faturar mais ainda nas ondas de seu sucesso. Agora, em “Como Vender a Lua”, Scarlett Johansson mostra novamente quem ela é, provando que bastam uma boa história e um punhado de atores competentes para fazer um filme que valha o preço do ingresso.

Scarlett vive o papel de uma publicitária esperta e ligeiramente inescrupulosa contratada para viabilizar o Projeto Apolo da NASA, já que a entidade em 1968 colecionava fracassos e narizes torcidos dos congressistas norte-americanos. As mortes dos astronautas Gus Grissom, Edward White e Roger Chaffee no decorrer do programa depunham fortemente contra a corrida espacial e fechavam os cofres. Além disso, o auge da guerra do Vietnã priorizava as atenções e mantinha a opinião pública agarrada às TVs.

Sob chantagem e nas mãos de um ardiloso agente do governo (o excelente ator Woody Harrelson) a marqueteira encara uma missão altamente sigilosa: produzir em estúdio um falso pouso na Lua, caso as coisas dessem erradas também com a Apollo 11 e assim não decepcionar os milhões de patriotas que aguardavam ansiosamente o voo.

Para a crítica americana que o aplaudiu, o filme é realmente baseado em suspeitas daquela época de que o secreto plano B – ironicamente denominado Projeto Artêmis, a mitológica irmã gêmea de Apolo – pode mesmo ter acontecido. Finalmente o dinheiro sonhado pela NASA chegou aos rodos e o eio na Lua, incluindo preparativos, custou algo em torno de US$ 170 bilhões. Números realmente astronômicos, sobretudo se comparados com outros. Por exemplo: somente nos 3 segundos iniciais da decolagem do foguete Saturno V que transportou o módulo lunar foram gastos quase dois mil litros de combustível - o mesmo volume utilizado por Charles Lindbergh no seu avião “Spirit of St. Louis” por 33 horas e 31 minutos, quando atravessou o Atlântico Norte em 1927, voando de Nova Iorque a Paris.

Domingo próximo será lua cheia. Cumprindo meu ritual de iração permanente, vou gastar alguns minutos contemplando-a e filosofando sobre a insustentável leveza dos corpos celestes. No caso da lua, afinal, quem é o dono dela? Apolo, Artêmis, NASA, russos, chineses? Que nada: como dizia aquela antiga marchinha de carnaval “todos eles/estão errados/a lua é/dos namorados””.