O julgamento do ex-presidente americano Donald Trump no processo sobre o 6 de Janeiro foi marcado para 4 de março do ano que vem, na véspera da chamada Super Terça, dia mais importante das primárias - processo em que o partido escolhe seu candidato à Presidência.
A decisão foi divulgada pela juíza Tanya Chutkan nesta segunda (28). A data escolhida é posterior ao que fora pedido pela Procuradoria, que queria um julgamento em janeiro, e muito antes do desejado pela defesa de Trump, que havia solicitado abril de 2026, em uma tentativa de protelar o processo.
O caso, que tramita na Justiça federal, trata das supostas tentativas do republicano de reverter sua derrota nas eleições de 2020 para o democrata Joe Biden. A denúncia foi apresentada em 1º de agosto pelo conselheiro especial do Departamento de Justiça Jack Smith.
Já há um outro julgamento de Trump previsto para março, no dia 25, na Justiça de Nova York, na qual ele é acusado de pagar a atriz pornô Stormy Daniels para que ela não revelasse, durante a campanha de 2016, um suposto caso entre os dois. Esse pagamento teria sido maquiado nas contas do empresário.
O calendário legal e o eleitoral de Trump se complicam cada vez mais, uma vez que os julgamentos vão obrigar o candidato a se retirar da campanha para se apresentar à Justiça.
A data de 4 de março é especialmente sensível porque ocorre na véspera da Super Terça, quando um grande número de estados realiza suas primárias (votação em que os membros de um partido escolhem quem desejam como candidato).
Alabama, Califórnia, Colorado, Texas e Virginia estão entre os estados que devem abrir as urnas no dia 5 de março.
As acusações no processo do 6 de Janeiro são quatro: conspiração para defraudar os EUA, conspiração contra direitos, conspiração para obstruir um procedimento oficial e obstrução e tentativa de obstrução de um procedimento oficial. Trump, por sua vez, afirma estar sendo perseguido politicamente por Smith, uma vez que o Departamento de Justiça está sob o guarda-chuva do governo Biden.
A denúncia afirma que Trump valeu-se de "desonestidade, fraude e engano" para obstruir o processo "de coletar, contar e certificar os resultados das eleições presidenciais". Os procedimentos oficiais aos quais o texto se refere são o processo de confirmação do vencedor das eleições, Joe Biden, pelo Congresso, em 6 de janeiro. Os direitos que teriam sido atacados são o de votar e o de ter o voto contado.
Um processo semelhante corre na Justiça da Geórgia, mas com foco nas supostas ações tomadas para reverter o resultado eleitoral neste estado, onde Trump perdeu por uma diferença de 0,2 ponto percentual.
Em uma ligação por telefone vazada, ele pede a uma autoridade do estado que "encontre" cerca de 12 mil votos - o necessário para reverter o placar a seu favor.
A procuradora Fani Willis, que lidera este caso, baseou-se em uma legislação de combate ao crime organizado conhecida como Rico para fazer a denúncia. Além de Trump, há outros 18 réus.
Na semana ada, eles se apresentaram em uma cadeia em Atlanta, onde o republicano teve sua fotografia tirada - a famosa "mug shot". Ele é o primeiro ex-presidente americano a ter um registro do tipo.
A proposta da Procuradoria é que o julgamento ocorra em outubro, mas o pedido foi aceito pela Justiça apenas para um dos réus, que havia solicitado um processo rápido. Ainda não há data para o julgamento de Trump neste caso. Há, ainda, uma quarta ação, na Justiça federal, por ter supostamente mantido documentos secretos após deixar a Casa Branca. Também não há data prevista desse julgamento.
O ex-presidente já acumula, no total, 91 acusações contra si isso sem contar os processos civis, como um por difamação movido pela jornalista E. Jean Carroll, que acusa Trump de tê-la estuprado nos anos 1990, e outro por fraude empresarial. Ele afirma ser inocente em todos os processos. Como não há instrumento similar à Lei da Ficha Limpa nos EUA, as ações não afetam a corrida à Presidência.
(Fernanda Perrin / Folhapress)