Identificar talentos desde a infância, oferecer estrutura completa e formar atletas prontos para o alto rendimento em várias modalidades. É assim que o Praia Clube, de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, atua com foco nos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 e nos próximos ciclos olímpicos e paralímpicos. Em entrevista exclusiva a O TEMPO Sports, o gerente de Esportes de Alto Rendimento do Clube, André Lelis, detalhou o projeto e falou sobre os pilares da formação.

“Sem base, não existe projeto sustentável. Desenvolvemos todas as modalidades com foco no legado. Queremos que atletas jovens cheguem preparados para os ciclos olímpicos. Hoje, o Praia tem o melhor projeto de base do atletismo do Brasil. Fomos campeões nacionais na base masculina e feminina. Estamos preparando atletas para Los Angeles desde agora”, afirma André.

O Praia ou a potencializar sua presença nos cenários olímpico e paralímpico em 2016. Em Paris 2024, foi o segundo clube com mais representantes no Time Brasil, atrás apenas do Pinheiros–SP, com 13 atletas convocados, com destaque para os pódios no vôlei: ouro no vôlei de praia com Duda e Ana Patrícia e bronze no vôlei de quadra com Macris e Natinha. No paradesporto, o desempenho também foi expressivo: o clube levou 23 atletas em Paris-2024 e faturou 15 medalhas, sendo dez na natação e cinco em modalidades como triatlo, tênis de mesa e halterofilismo.

Ao todo, o clube de Uberlândia trabalha em mais de vinte frentes esportivas, entre modalidades olímpicas, paralímpicas e especiais, e reúne 757 atletas, em 2025, somando categorias de base e alto rendimento. As diferenças entre elas são tratadas com atenção à estrutura e às particularidades de cada esporte. Estão no projeto natação, atletismo, judô, tênis de mesa, tênis de campo, tiro esportivo, halterofilismo, canoagem, paratriatlo, bocha, bton, karatê, futsal, beach tennis e basquete 3x3, entre outras.

A descentralização é uma das apostas do clube. Além da sede em Uberlândia, há núcleos técnicos em Belo Horizonte, Juiz de Fora, Londrina e Rio de Janeiro. “Criamos núcleos fora de Uberlândia para garantir que os atletas possam se desenvolver com excelência. Hoje, temos atletas como o Gabrielzinho Araújo, da natação paralímpica, treinando em Juiz de Fora, com tudo bancado pelo Praia — técnico, estrutura e salário”, explica Lelis.

 Duda e Ana Patrícia, medalhistas de ouro no vôlei de praia. Foto: Luiza Moraes/COB

O vôlei é um dos principais pilares dessa estrutura. No feminino, o time disputa a Superliga desde 2008 e se firmou como potência nacional, com títulos em 2018 e 2023 e três conquistas sul-americanas. O masculino surgiu em parceria com o Araguari, em 2021, e ganhou autonomia na temporada 2024, já conquistando o vice-campeonato sul-americano. No vôlei de praia, as duplas Ana Patrícia e Duda (foto acima) e Arthur e Adriel são referências nacionais e internacionais. Tudo isso, com o apoio do Programa de Formação de Atletas (PFA), do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), e do próprio o Praia, que financia técnicos, viagens, estrutura e todo acompanhamento multidisciplinar. Mas a proposta não se limita a revelar talentos: o objetivo é sustentá-los no esporte até a chegada ao alto rendimento.

“Tem muito projeto que se preocupa só com o começo. Mas o desafio mesmo é sustentar o atleta dos 17 aos 22 anos. Pois é aí que a maioria larga. Porque acaba o projeto, acaba a competição, o técnico sai ou a família não consegue bancar e o atleta se vê sozinho. E é nessa hora que o clube precisa estar presente. A gente quer que eles fiquem. Que vejam perspectiva no esporte. O menino da base tem que saber que, se ele estiver indo bem, vai ter caminho, vai ter calendário, vai ter chance de continuar”, reforça o gerente de Esportes da equipe de Uberlândia.

Captação e continuidade

Gabriel Araújo posa para foto em pódio em Paris 2024 | Foto: Alexandre Schneider / B

A captação de atletas do Praia segue uma lógica ampla, que vai de crianças a integrantes das Forças Armadas. Em muitos casos, os próprios jovens procuram o clube em busca de uma chance de competir em alto nível.

“A gente percebeu que o talento não está só em Uberlândia. E, mais do que isso, entendeu que, se quiser chegar à seleção brasileira, o atleta precisa começar a competir cedo. Tanto no segmento olímpico quanto no paralímpico, o caminho é longo e a pela identificação, avaliação, treinamento e seleção de talentos”, diz o gerente.

Segundo ele, o processo vai além da técnica. Envolve resiliência, adaptação, maturação. “O atleta precisa rodar, perder, ganhar, cair, levantar. Isso tudo é formação”, resume André Lelis.

Mesmo com leis de incentivo ao esporte e apoio institucional, manter a base ativa como a do Praia Clube exige planejamento de longo prazo. Porém, o retorno, como lembra Lelis, não é imediato.

“Às vezes a gente nem sabe o que está formando. Hoje o atleta está no sub-18, sem grande expressão. Mas, em dois anos, pode estar na seleção sub-21. E dali para frente, ninguém segura. O que a gente não pode é deixar ele parar porque faltou uma viagem ou um técnico”, conclui.