BRASÍLIA - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes negou um pedido do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para ser dispenso dos interrogatórios dos outros réus da suposta tentativa de golpe de Estado.
A defesa de Cid alegou que o militar já prestou depoimento e não tinha nada mais a acrescentar. Mas Moraes, que é relator da ação penal, rebateu que a presença dele era necessária para a garantia do direito à ampla defesa. Ele foi o primeiro dos oito réus a falar por ser delator do esquema.
Dessa forma, Cid terá que acompanhar presencialmente os outro seis depoimentos que devem ser realizados até a sexta-feira (13). Entre eles, o de Jair Bolsonaro. Os dois se encontraram pela primeira vez na segunda-feira (9) depois da delação premiada do militar. Eles se cumprimentaram, antes de Cid confirmar que Bolsonaro leu e editou minuta de golpe.
Os depoimentos acontecem em ordem alfabética. Além de Cid, foi interrogado na segunda-feira o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que foi diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na gestão de Bolsonaro.
Nesta terça-feira (10), a Primeira Turma do STF abrirá a sessão com o interrogatório do ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos. Em seguida, serão chamados o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres, além do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno.
O ex-presidente será o sexto réu a depor. Depois dele, ainda serão chamados os ex-ministros da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e da Casa Civil, Walter Braga Netto. Este último está preso e, por isso, falará por videoconferência. Os interrogatórios devem acontecer até o final desta semana.
Em seu depoimento, Mauro Cid disse que presenciou os fatos narrados na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), mas negou que tenha participado da suposta trama golpista.
De acordo com ele, Bolsonaro recebeu, leu e editou a chamada “minuta do golpe”, que poderia ser usada para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Ele enxugou o documento, retirando as prisões. Apenas o senhor [Moraes] ficaria preso”, disse Cid, que era ajudante de ordens na ocasião. Ele respondeu à pergunta de Moraes sobre confecção de documentos que eram levados a Bolsonaro, então recluso no Palácio da Alvorada, para tentar anular a eleição de 2022.
O delator contou que, após o resultado da eleição presidencial, Bolsonaro buscou duas linhas de atuação para reverter a derrota: buscar fraudes no processo eleitoral ou um golpe armado. Cid narrou, ainda, o plano de militares das Forças Armadas para pressionar os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica a aderir a um golpe de Estado em 2022.
“Existia essa pressão para que se o general Freire Gomes [então comandante do Exército] não tomasse alguma atitude [favorável a uma intervenção militar contra a posse de Luiz Inácio Lula da Silva], que se colocasse militares que pudessem tomar alguma atitude”, afirmou Cid.