Encerrado o ano eleitoral de 2024, o foco de partidos e candidatos se volta agora para 2026, quando serão realizadas as eleições para presidente da República, governadores, deputados estaduais e federais e também para o Senado. Em Minas Gerais, assim como nos demais estados, duas cadeiras de senadores estarão em disputa. Até o momento, há ao menos dez possíveis nomes, de diferentes partidos e correntes ideológicas, para concorrer ao cargo.
A disputa pelo Senado difere das eleições para a Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas, apesar de todas pertencerem ao Poder Legislativo. A principal distinção está nas articulações regionais e nacionais exigidas entre os partidos para a definição dos candidatos. A corrida para o Senado segue o sistema majoritário, no qual os mais votados são eleitos, em contraste com o sistema proporcional adotado para a Câmara e as Assembleias. Além disso, o número de vagas no Senado é muito menor: em Minas, por exemplo, há 77 deputados estaduais e 53 deputados federais, enquanto o Senado oferece apenas três vagas por estado. As negociações têm um impacto direto na decisão dos partidos sobre lançar ou não um candidato ao Senado, levando em conta interesses estratégicos, alianças e acordos políticos.
Em 2022, por exemplo, dos 29 partidos políticos, apenas nove lançaram um candidato ao Senado. O PT foi uma das siglas que optou por não lançar um nome próprio em Minas Gerais. Em vez disso, apoiou Alexandre Silveira, do PSD, que encabeçou uma coligação formada por PT, PCdoB, PV e PSB. Essa mesma aliança sustentou a chapa para o Governo de Minas, com Alexandre Kalil, então no PSD, como candidato a governador, e André Quintão (PT) como vice.
Durante a campanha, Silveira declarou apoio a Lula, que na época pleiteava uma volta à presidência. Embora não tenha conseguido se eleger senador, com a vitória de Lula, Silveira foi nomeado ministro de Minas e Energia, cargo que ocupa até hoje. Em 2026, ele pode tentar novamente uma cadeira no Senado, a depender de uma série de movimentos que envolvem inclusive o governo estadual.
Até o momento, a expectativa é que o PT possa fazer mais uma vez uma costura com o PSD. Entre os petistas, há quem defenda que a sigla abra mão da cabeça de chapa em prol de alianças estratégicas. Por outro lado, há setores que preferem que o partido lance um candidato próprio ao Senado - e até mesmo para o governo. Segundo fontes do PT, o consenso pode incluir a indicação de um candidato pelo PSD e outro pelo PT ao Senado, já que, desta vez, duas vagas estão em disputa.
Pelo lado petista, um possível candidato seria o deputado federal Reginaldo Lopes, que foi o pré-candidato do partido em 2022, mas abriu mão da disputa como parte de um acordo nacional para fortalecer a candidatura de Lula. Procurado, o parlamentar afirmou estar discutindo a possibilidade, mas ressaltou o desejo de construir uma aliança com o centro, com foco em garantir vitórias tanto para a Presidência quanto para o governo estadual. “Estou conversando. Tenho disposição em contribuir com a reeleição do presidente Lula e com o meu estado e país, porém, tenho convicção do melhor desenho da chapa em Minas Gerais para as vitórias majoritárias! Quero uma aliança ampla em Minas Gerais com vários partidos de centro”, disse à reportagem.
Outros nomes citados incluem a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo (PT), e o deputado federal Odair Cunha, atual líder do PT na Câmara. Procurada, Macaé disse apenas que está disposta a colaborar com o projeto de reeleição de Lula. “Estou à disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o que for necessário para a reeleição”. Já a assessoria de Odair Cunha não retornou ao contato da reportagem até a publicação desta matéria.
O PSOL disse à reportagem de O TEMPO que pretende lançar uma candidatura ao Senado, embora as conversas ainda não tenham sido iniciadas. “Como tivemos duas candidaturas muito bem votadas nas últimas eleições para o Senado, é natural que o PSOL Minas siga fazendo essa disputa, mas definições concretas teremos no decorrer de 2025”, declararam por meio da assessoria.
Do outro lado do campo ideológico, o PL deve começar as discussões com outros partidos no primeiro semestre deste ano. Entre as siglas que podem entrar na conversa, estão o Progressistas, Republicanos, Novo e União Brasil. A intenção do presidente estadual da legenda, deputado federal Domingos Sávio (PL), é de formar uma chapa que una a direita e até setores da centro-direita, alinhada aos “princípios conservadores” defendidos pelo partido. Apesar de sua força política, o PL não pretende ocupar a cabeça de chapa em todos os cargos majoritários em disputa.
Nesse contexto, ainda não está definido se o partido terá um candidato próprio ao Senado. Caso isso ocorra, um dos nomes cotados é o do próprio Domingos Sávio, que confirmou a O TEMPO seu interesse em disputar uma vaga no Senado, mas destacou que a prioridade é a formação de uma boa aliança. Além disso, o deputado federal Eros Biondini já manifestou ao partido seu desejo de se candidatar ao cargo, segundo o presidente estadual.
Um “elemento surpresa” também pode surgir: sem revelar nomes, Domingos Sávio mencionou que um político demonstrou interesse em se filiar ao PL para disputar o cargo. No entanto, ele ponderou que, sem a garantia de que o partido terá um candidato ao Senado, a filiação não é viável no momento.
Em um espectro político diferente, o deputado federal Mário Heringer, presidente estadual do PDT, tem uma visão de jogo parecida com a do líder do PL. Ele declarou a O TEMPO seu desejo de ser candidato, mas ressaltou que a concretização dessa intenção depende de toda a conjuntura. Segundo o dirigente, o partido planeja formar uma chapa com legendas de vertente centro-esquerda, o que poderia tirar da cena uma candidatura do PDT ao Senado. Quadros importantes do partido, como a deputada federal Duda Salabert - que concorreu à Prefeitura de Belo Horizonte, obtendo o quinto lugar e 7,68% dos votos válidos, e já tentou ser senadora em 2018, quando estava no PSOL - reforçou à reportagem seu apoio à candidatura de Heringer por meio da assessoria.
Entre os partidos listados pelo PL para integrar uma potencial aliança, o Republicanos tem o presidente estadual, Euclydes Pettersen, como pré-candidato, segundo fontes do partido. Oficialmente, o político se restringiu a declarar à reportagem que a sigla tem “prioridade em lançar senador” e que essa decisão será tomada em conjunto com o presidente nacional da sigla, deputado federal Marcos Pereira, com os membros da executiva estadual e deputados estaduais e federais. Pettersen também afirmou: “Estamos buscando candidatura própria para o governo do Estado, pelo Republicanos, podendo fazer coligações com outros partidos.”
Derrotado na disputa pelo mesmo cargo em 2022, o secretário de Estado da Casa Civil, Marcelo Aro (PP), é outro nome que pode tentar novamente uma vaga no Senado em 2026. Na última disputa, ele concorreu também pelo PP e ficou em terceiro lugar, com 19,68% dos votos válidos. De lá pra cá, o político foi nomeado secretário de estado da Casa Civil no governo Zema e tem acumulado vitórias nos bastidores da política, como a eleição de Juliano Lopes (Podemos) para a presidência da Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Um nome que já confirmou oficialmente sua candidatura a O TEMPO é o senador Carlos Viana (Podemos), que terminou a corrida para a Prefeitura de Belo Horizonte com apenas 1% dos votos válidos. Ele afirmou que a decisão não foi motivada por uma questão pessoal, mas sim pelo compromisso com seu grupo político e pela necessidade de dar continuidade ao trabalho que vem realizando. Viana disse que tomou a decisão após conversar com prefeitos e com o grupo político que conseguiu formar, incluindo seu filho, o deputado federal Samuel Viana (Republicanos). “Nós temos hoje 115 prefeituras e 451 municípios com algum tipo de projeto, e esses parceiros querem a continuidade do trabalho no Senado”, declarou.
Quem se colocou à disposição na disputa foi o jornalista Eduardo Costa (Cidadania), que confirmou seu interesse em se candidatar caso um grupo político alinhado com seus ideais se mostre interessado em apoiá-lo. Segundo ele, é chamado para disputar algum cargo desde 1978, um ano após iniciar sua carreira no jornalismo, mas nunca se empolgou com a ideia. No entanto, desde que foi convidado pelo governador Romeu Zema (Novo) para ser candidato a vice em 2022, ou a refletir mais seriamente sobre a possibilidade de entrar na política. Atualmente no Cidadania, Costa não garante que permanecerá na legenda para concorrer ao Senado. “Vai depender muito de composição partidária porque é um cargo majoritário que exige muita conversa”, declarou.
Um dos partidos mais tradicionais em Minas, mas que vem perdendo força nas últimas eleições, O PSDB ainda discute a melhor forma de disputar o Senado. O presidente estadual da sigla, Paulo Abi-Ackel, afirmou que “há uma tentativa de unificação de candidaturas do centro” e que as conversas devem se intensificar a partir de fevereiro. “É necessário em relação a Minas ter uma reunião de forças políticas semelhante ao que aconteceu com Fuad (Noman) para vencer aquilo que se pode chamar de antipolítica e radicais de direita”, declarou à reportagem. O PSDB foi um dos oito partidos que apoiaram a reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman.