Eu sei que você viu, mas não é real
Os bebês reborn e a manipulação social
Minha mãe já dizia: “Sou igual a são Tomé, só acredito vendo”. A questão é que, agora, eu, vendo, não acredito!
Essa história de mulher levando bebê reborn para o hospital e faltando ao trabalho vem na mesma leva da “mamadeira de piroca” ou do “kit gay” nas escolas. Isso é fake news, mas, como as pessoas entram na “trend”, todo mundo fala no assunto, o algoritmo considera aquilo relevante, as pessoas am a produzir mais conteúdo sobre o assunto para poder deixar seus próprios perfis relevantes, influenciadores inventam história, como separação com briga judicial por bebê reborn, por exemplo, e, de tanto se escutar a mesma mentira, ela vira verdade. Afinal, “uma mentira contada mil vezes torna-se verdade”.
O que poucos percebem é o fato de que há algo muito mais profundo nessas fake news. Normalmente, elas atingem exatamente os grupos que já sofrem preconceito social e reforçam padrões discriminatórios.
Grupos LGBTQIA+ são frequentemente associados a situações de fake news, sempre colocando-os como aqueles que “levam criancinhas à perdição” e sempre, claro, orientados por certos “veios políticos”, que têm como objetivo levar as crianças inocentes para o “lado mal da força”. O mesmo ocorre agora: a tal fake do bebê reborn serve para dizer que as mulheres são desequilibradas, loucas, histéricas. Algo que toda mulher sempre escutou. Se o homem grita, está nervoso; se a mulher grita, é histérica.
É um padrão social criado para nos tirar a liberdade de escolha e nos submeter socialmente!
Homens adultos jogam video-game, futebol, têm coleção de carrinho. Mas a jovem, em sua festa de 15 anos, entrega a boneca a uma criança e ganha sapatos de salto. Aos 15, temos rituais que representam a entrada na vida adulta, e as que não têm condição de ter sonham com esse ritual. Qual ritual de agem existe de um jovem rapaz entregando seus carrinhos?
Uma menina que, adulta, ainda coleciona bonecas não cresceu; um homem que coleciona imagens de super-heróis e personagens de animes é um colecionador, é algo tão louvável que parece até uma “profissão”.
A grande massa não percebe o quão profundo é esse problema. As formas de manipulação social mudam, mas a manipulação em si permanece a mesma. E assusta perceber pessoas que historicamente fazem parte de grupos de minorias, como mulheres, entrando no assunto da moda para ganhar dinheiro. Acredito que muitas nem percebam que estão alimentando um sistema que as aprisiona.
Sim, eu sei que você viu até imagens, mas não, não necessariamente isso que você viu é real! A tal mamadeira era artigo de Carnaval, e te contaram uma “historinha para boi dormir” de que estavam usando em crianças, assim como o tal assunto das bonecas que parecem reais.
Enquanto houver gente que manipula e manipulados que não refletem, vamos continuar alimentando nossas prisões sociais. E depois querem tirar aulas de filosofia das nossas escolas...