Aquilo que te compõe muitas vezes pode ser incômodo. É natural que pensemos em evitar aquilo que nos tira de nossa zona de conforto, aquilo que nos faz sentir distantes de certo ideal que projetamos para nós mesmos.
Quando falamos sobre sintoma doloroso, a situação não é diferente. Não nos aprofundamos em entender as origens de nossos sintomas, queremos que eles apenas parem de existir. Não queremos ser incomodados.
Reconhecer a dor
O preço que pagamos por ficar na parte rasa da cura é muito alto. O maior deles é o aprofundamento da doença. Ao eliminarmos o sintoma doloroso, com diferentes métodos de analgesia, o problema se aprofunda sem que possamos ter um controle real daquilo que verdadeiramente está ocorrendo. Ou seja, é como ar maquiagem sobre uma espinha: o problema se camufla, mas continua lá.
A nomeação do sintoma, categorizá-lo em CID, muitas vezes parece o final da linha. Atravessamos um importante marco: sinto “X” porque tenho “Y”. Apesar de compreender a potência do conforto gerado por entendermos aquilo que está nos afligindo, a forma como isso é comunicado precisa ser repensada.
Dor e história
O sintoma que nos aflige raramente é dissociado de nosso modo de vida. Ao nomearmos o sintoma, comumente parece que o problema apareceu de forma aleatória, que ele não tem uma história, um caminho que foi percorrido para que ele exista atualmente.
É mais fácil pensarmos que somos azarados, que o problema nos escolheu aleatoriamente, ou que temos uma “maldição genética” que nos persegue.
Torna-se mais fácil e também mais confortável uma vez que nos damos conta de que o problema tem uma história. Também precisamos lidar com o fato de que fomos nós os responsáveis por construí-la, e isso é incômodo.
Influência sobre a própria vida
Por pior que seja o local de onde viemos – e por mais que tenhamos sido empurrados para estruturas danosas que nos fizeram chegar aonde chegamos –, quem vive hoje com o problema somos nós.
Somos os únicos capazes de ter uma verdadeira influência em nossas vidas, nem os médicos ou familiares são tão potentes quanto nós mesmos para construir nossa história.
Entender essa realidade é desafiador, nos implica com nosso próprio processo de mudança, e assumir essa responsabilidade é muitas vezes assustador.
Culpa ou vergonha são sentimentos que muitas vezes permeiam esse processo, mas é preciso transcendê-los. Eles, na maioria das vezes, nos paralisam muito mais do que nos empoderam.
Abrir espaço para a cura
É ímpar que sejamos gentis conosco, que entendamos nosso próprio processo com carinho. Não podemos deixar com que vergonha e culpa nos impeçam de construir a vida que merecemos.
Não é porque é o caminho familiar que ele é o caminho que você precisa seguir para sempre.
É importante abrir espaço para a cura e para a saúde verdadeira. Ela envolve muito mais do que nosso corpo. Também a por assumirmos nossa história e nos implicarmos com sermos melhores onde for possível.