Cruzeiro: afinal, pressão em cima dos jogadores, adianta?
Algum time ou jogador vai ar a render bem após ser ameaçado?
Trabalho na imprensa esportiva há 20 e poucos anos. Já vi vários tipos de pressão em cima de times, técnicos e diretorias.
Já vimos torcedor na arquibancada vaiando, xingando, gritando, aplaudindo... Já vimos gente na porta de centro de treinamentos, tanto de Atlético, quanto de América e de Cruzeiro. Invasão em CT, protesto, manifestação e tudo quanto é tipo de coisa.
Pois bem, adianta? Alguém que está lendo esta coluna já viu, em algum momento, um time, que não vinha rendendo, um jogador que não mostrava um bom futebol, de repente mudar e se tornar o Pelé devido a pressão externa?
Sinceramente, eu nunca vi. Para mim o efeito é radicalmente o contrário. Não acho que exista um ser humano que e a render bem após ser totalmente esculhambado, inclusive na parte material, ou ter sua família ameaçada.
Vamos ao caso do momento. O Cruzeiro cumpre uma péssima campanha no Campeonato Brasileiro, lutando contra o rebaixamento. Jogadores (um tanto quanto limitados) não se entendem em campo, trocas sistemáticas de técnicos e nada de surtir qualquer resultado positivo.
Que o time carece, e muito, de qualidade, acho que concordamos. Que o técnico, até então Zé Ricardo, não vinha mostrando a que veio, acho que também temos um acordo. Mas será que entregar carta de ameaça muda esse patamar? Será que "torcedores" invadirem o gramado para agredir jogador, altera a história?
Vamos a dois exemplos que estão no próprio Brasileirão. O Santos vinha descendo a ladeira. Acho que todo mundo se lembra da goleada sofrida pelo time paulista, contra o Internacional, por 7 a 1. Vexame, claro! O Peixe, depois daquele jogo, válido pela 28ª rodada, em 22 de outubro, ocupava a 18ª posição, com 30 pontos, mesma pontuação do Vasco, o 17º na tabela. Os cariocas ainda estavam na frente, pelos critérios de desempate.
Pois bem, quando o elenco santista desembarcou em sua cidade natal, protesto? Violência? Quebradeira? Agressão a jogadores? Ameaça? Nada disso. Exatamente ao contrário, os torcedores 'abraçaram' o elenco. E, em tom de compreensão, aram a apoiar ainda mais o limitado time. Resultado, o Santos não perde desde então. Foram seis jogos, com três vitórias e três empates. Hoje a equipe ocupa a 14ª colocação, com 42 pontos, praticamente salva do rebaixamento.
O outro exemplo é justamente o Vasco. Descendo a ladeira, lutando contra a degola, a equipe, também bastante limitada, vem recebendo um apoio incondicional de seus torcedores. O que fizeram nas arquibancadas de São Januário, por exemplo, depois do jogo contra o América (vitória vascaína, no sufoco, por 2 a 1) foi inacreditável para uma equipe que está na luta contra a degola. Hoje o time é 15º, com 40 pontos, quase escapando do rebaixamento. Pegando um recorte vascaíno de seis jogos, para igualar ao período do Santos, foram três vitórias, duas derrotas e um empate.
Vamos então aos últimos seis jogos do Cruzeiro. Foram quatro derrotas e duas vitórias, com um futebol cada vez pior. Desses, os últimos três jogos o time perdeu (inclusive para o Coritiba, virtualmente rebaixado, penúltimo colocado). E a pressão externa, dos "torcedores", só aumentando.
Será que está surtindo o efeito esperado? E agora, depois do que aconteceu lá em Curitiba, no último sábado, com o time mineiro tendo que cumprir punição, a coisa vai melhorar? Na hora da "decisão" para a equipe celeste, sem o apoio dos verdadeiros torcedores, a coisa vai melhorar? Acho (ou tenho certeza!) que não.
Mas vale a reflexão.