Em 5 de novembro de 2015, o Brasil enfrentou o maior desastre ambiental de sua história: o rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, em Mariana (MG). A data não marca apenas uma lembrança dolorosa, mas um convite à reflexão sobre a necessidade de fortalecermos o sistema de gestão hídrica e ambiental em todo o país.
Desde o rompimento, os Comitês do Rio Doce têm acompanhado de perto os processos de recuperação, apontando falhas e cobrando o cumprimento de compromissos assumidos por diferentes esferas de atuação. No entanto, mesmo com o esforço conjunto, esbarramos em desafios significativos, como burocracia e a falta de articulação efetiva entre os órgãos governamentais.
Após nove anos, uma crítica que persiste é a falta de participação significativa do CBH Doce nas discussões do processo de repactuação do acordo de Mariana, que, por fim, foi assinado em outubro de 2024.
O comitê, legítimo representante dos interesses da bacia e das comunidades ribeirinhas, foi amplamente ignorado, o que evidenciou uma falha crucial em reconhecer o papel estratégico da gestão compartilhada das águas. Para que essa repactuação realmente traga os benefícios esperados, é fundamental que as medidas e os recursos sejam priorizados e executados na própria bacia, gerando impactos reais e positivos para as populações atingidas.
Apesar das adversidades, o CBH Doce tem acumulado conquistas significativas ao longo dessa jornada, por mérito daqueles que, apesar das circunstâncias, acreditam na gestão das águas. Uma delas é o fato de que a bacia se tornou pioneira na implementação completa dos instrumentos de gestão estabelecidos pela Política Nacional de Recursos Hídricos, que são fundamentais para orientar ações mais eficazes, otimizando resultados e valores investidos.
Outro destaque são os recursos oriundos da cobrança pelo uso da água, que têm sido aplicados em diversas iniciativas de preservação e recuperação. Para 2025, o CBH Doce destinará cerca de R$45 milhões para novos investimentos em projetos voltados à recuperação da bacia.
Entre os projetos de destaque estão a Iniciativa Rio Vivo, que prevê ações de incremento da disponibilidade hídrica; a elaboração e implantação de projetos pilotos de Sistemas de Gerenciamento de Perdas de Água em Sistemas de Abastecimento, com o uso de inteligência artificial; e o desenvolvimento de ações no setor de saneamento, por meio das iniciativas Protratar Projetos, Obras, Perdas e Pequenas Comunidades; além do Programa de Convivência com as Cheias.
Através do diálogo e da experiência acumulada na gestão das águas, reafirmamos nosso compromisso em buscar soluções duradouras e justas para todas as comunidades. Nossa missão é transformar o Rio Doce em um símbolo de resiliência, onde, apesar das adversidades, a vida possa florescer novamente.
Continuaremos atuando com determinação, garantindo que as futuras gerações herdem uma bacia revitalizada e protegida.
(*) José Carlos Loss Júnior é presidente do CBH Doce