A morte da menina Melissa Maria Ribeiro, de 6 anos, reacendeu a discussão sobre violência no trânsito. Segundo especialistas, os conflitos estão cada vez mais intensos e são amplificados nesse espaço. A garota foi baleada na BR-381, entre Contagem e Betim, enquanto voltava para casa, em um suposto desentendimento de trânsito.
Segundo o coordenador da Mobilização Nacional de Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito, Alysson Coimbra, o caso de Melissa acende um alerta para os riscos de se descuidar do bem-estar psicológico. “Desde o pós-pandemia, a gente percebeu o aumento de números de casos relacionados à saúde mental e psicológica. É um problema de saúde pública que é refletido em vários ambientes, porém de maior magnitude quando está num espaço coletivo, como é o trânsito”, explica.
Alysson relembrou o caso do delegado Rafael Horácio, acusado de matar o motorista de caminhão-reboque Anderson Cândido de Melo, durante uma briga de trânsito, em Belo Horizonte, em julho de 2022. O especialista ressalta que esses não são casos isolados. “O trânsito é um espaço que estimula que essas pessoas sem o equilíbrio da saúde mental e psicológica tenham os de fúria, raiva e agressividade”, reforça. Para Alysson, é importante rever a validade de dez anos da CNH, já que esse período maior sem avaliação psicológica pode dificultar a identificação de condutores sem condições de lidar com o trânsito.
Relembre o caso 68174r
No carro com o pai, a avó, e o irmão de 3 anos, Melissa, de 6 anos, cantava. Ela estava feliz na tarde de domingo (21), pois a família voltava para casa, em Raposos, na região metropolitana de BH, após visitar outra residência que eles têm, em Igarapé, onde está sendo feita uma reforma. Quando o carro da família ava pela BR–381, entre as cidades de Betim e Contagem, um tiro silenciou para sempre a alegria da menina.
O disparo foi feito por outro motorista, que emparelhou seu Uno branco com o da família da menina e, após xingar o pai dela, sacou uma arma e atirou, acertando a cabeça de Melissa, que estava no banco traseiro.
“Eu vi a minha filha caindo e acelerei”, conta Maicon Júnior dos Santos, de 35 anos, que ainda tenta entender o que motivou a atitude violenta do atirador.
A suspeita é que o crime esteja relacionado a uma briga de trânsito, mas Santos nega que tenha discutido com o algoz da filha antes do disparo. “Ele emparelhou o carro do meu lado, xingou alguns palavrões, puxou a arma e atirou”, relata. A família acredita que possa ter havido uma fechada acidental e que isso possa ter deixado o motorista nervoso, mas nada proposital.
Segundo os familiares de Melissa, o impacto do tiro foi tão forte que a menina caiu desacordada em cima do irmão mais novo, que estava ao lado dela.
Os minutos que se seguiram foram de desespero. Ao ver a filha ferida, Santos acelerou seu carro em busca de ajuda. Sem saber onde ficava o hospital mais próximo, ele conseguiu encontrar um posto da Polícia Militar, que o ajudou a socorrer a filha até o Hospital Municipal de Contagem, onde chegou ainda com vida, mas não resistiu.
Na terça-feira (23), Santos prestou depoimento na Delegacia de Homicídios, em Contagem, que investiga o caso. A mãe e a avó da garota também estiveram no local, mas, abaladas, preferiram não falar sobre a tragédia. “Como os pais trabalham durante a semana, a Melissa estava sempre na casa dos meus pais. A avó era mãe também, as duas eram parecidas até na forma de conversar. Ela sentiu muito mesmo e ainda está sentindo”, lamenta Leandro Júlio dos Santos, de 34 anos, tio de Melissa.
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Até o momento da publicação desta matéria, o autor dos disparos não foi localizado. Segundo os familiares, ele estava em um Uno Branco Vivace, com um amassado na porta traseira esquerda e um acabamento pela metade na roda traseira esquerda. A Polícia Civil afirma que segue investigando o caso.
Caso seja condenado pelo homicídio de Melissa, o autor do disparo que matou a garota pode ter uma pena maior, afirma a advogada criminalista e doutora em direito penal Carla Silene.
Segundo ela, se ficar provado que o crime foi por conta de uma fechada no trânsito, isso seria um agravante. “É um homicídio por motivo fútil. Homicídio qualificado com a pena de 12 a 20 anos, com aumento de pena pelo fato de a vítima ser criança”, detalha.