Excesso de tela contribui para progressão da miopia, alerta especialista
Estimativas da OMS indicam que, até 2050, 52% da população pode ter miopia

A miopia, um erro refrativo que dificulta a visão à distância, tem se tornado um problema global de saúde pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050, mais da metade da população mundial poderá ser míope, com 10% dos casos classificados como alta miopia, condição que traz riscos de comprometimento visual irreversível. Um crescimento está diretamente relacionado às mudanças no estilo de vida moderno, especialmente ao uso excessivo de telas, como alerta a oftalmologista Mariana Amaranto, especialista em retina e vítreo.
A médica explica que a miopia ocorre quando o globo ocular é mais alongado que o normal (miopia axial) ou quando a córnea ou o cristalino apresentam curvaturas mais acentuadas, fazendo com que a luz se concentre antes da retina em vez de sobre ela. “Isso resulta em visão embaçada para longe, enquanto a visão de perto permanece relativamente preservada”, informa.
Tradicionalmente vista apenas como um erro refrativo, a condição ou a ser reconhecida como patológica em casos mais graves. “Quando ultraa 6 graus e está associada a alterações estruturais no fundo do olho, como um alongamento exagerado do globo ocular, chamamos de miopia degenerativa”, situa, pontuando que, nestes casos, complicações sérias podem ocorrer, como descolamento de retina, glaucoma e até perda permanente da visão. “Pacientes com alta miopia precisam de acompanhamento semestral para monitorar possíveis alterações na retina e evitar danos irreversíveis”, ressalta a Mariana.
A oftalmologista pontua que o perfil dos pacientes com o quadro mudou nas últimas décadas. Enquanto no ado a miopia estava fortemente ligada à genética – “pais míopes têm mais chances de ter filhos míopes” –, hoje o estilo de vida moderno é um dos principais impulsionadores do problema. “O que mudou? As crianças e adolescentes estão ando muito mais tempo em ambientes fechados, usando telas e fazendo atividades de perto, como estudar ou jogar videogame, enquanto reduziram drasticamente o tempo ao ar livre”, observa.
E estudos confirmam que a exposição à luz natural ajuda a regular o crescimento do globo ocular, enquanto o excesso de esforço visual em curtas distâncias pode estimular seu alongamento anormal. “A pandemia (da Covid-19) piorou ainda mais esse cenário. Muitos pacientes que já eram míopes tiveram progressão acelerada do grau devido ao aumento do tempo em frente a computadores e celulares”, relata a especialista.
Prevenção
O uso prolongado de dispositivos digitais não só agrava a miopia como também está por trás de outro problema cada vez mais comum, que atinge pacientes cada vez mais precocemente: a síndrome do olho seco. “Quando ficamos olhando para telas, piscamos até 30% menos, e isso prejudica a distribuição do filme lacrimal, que é essencial para lubrificar e proteger os olhos, resultando em sintomas como vermelhidão, ardência e sensação de areia nos olhos”, informa Mariana Amaranto.
Para minimizar esses efeitos, a médica recomenda a “regra 20-20-20”: “Ou seja, a cada 20 minutos de tela, olhe para algo a 20 pés de distância, o que corresponde a cerca de 6 metros, por 20 segundos. Isso ajuda a relaxar a musculatura ocular e reduz a fadiga visual”.
Outras dicas incluem moderar o uso de tela, ajustar o brilho das telas, manter uma distância adequada do monitor e, sempre que possível, priorizar atividades ao ar livre.
Tratamentos
Além de recomendar medidas preventivas, Mariana lembra que quadros de miopia vão ser tratados conforme a gravidade de cada caso.
Casos leves a moderados (até 6 graus) podem ser corrigidos com óculos, lentes de contato ou cirurgia refrativa a laser. Já para pacientes com alta miopia, as opções incluem lentes rígidas, implante de lentes intraoculares ou até a substituição do cristalino. “O importante é que os alto míopes façam acompanhamento regular, porque o risco de complicações é maior”, alerta a especialista.
Além disso, estratégias para frear a progressão rápida da miopia em crianças já vem sendo aplicadas com sucesso. “Já existem lentes especiais no mercado que ajudam a controlar o avanço do grau, e em alguns casos usamos colírios de atropina em doses muito baixas, aplicados à noite”, explica. Esses métodos são indicados quando há um aumento significativo em pouco tempo: “Se uma criança que tinha 3 graus a para 3,75 em seis meses, já consideramos uma progressão preocupante e partimos para essas alternativas”.