Com 60 anos de carreira só na televisão, Tony Ramos revela que se aposentar não está em seus planos. “Eu adoro fazer novela, nunca escondi isso. Eu gosto de fazer um produto ainda não é conhecido como um todo; gosto de ser surpreendido pelo bloco novo de capítulos. Isso também, tecnicamente, me estimula na própria confecção de cada movimento da personagem”, afirma o veterano ator de 76 anos, que está em “Dona de Mim”, atual folhetim das sete da Globo, interpretando Abel, presidente da fábrica de lingerie Boaz.
“Eu não sou ator de horários; sou um ator de texto, de ideias, de uma boa ideia. E assim fiz novelas às seis, às sete, às oito, as macro-novelas, como ‘O Rebu’, como ‘O Sorriso do Lagarto’ lá atrás”, comenta ele, visto com frequência no horário nobre da TV - o último trabalho de Tony, inclusive, foi em “Terra e Paixão” (2023-2024), onde deu vida ao vilão Antônio La Selva.
Ele conta que o convite para “Dona de Mim” veio em um jantar com a autora Rosane Svartman e com o diretor artístico Allan Fiterman, em outubro do ano ado. “Ali nascia para mim um novo movimento na minha carreira. Eu estava buscando voltar às novelas”, relata o ator, que em 2024 precisou se afastar do trabalho por questão de saúde.
“Eu tive um problema há exato um ano, tive que fazer uma cirurgia. Eu estava fazendo minha peça em São Paulo (‘O que Só Sabemos Juntos’, com Denise Fraga) e filmando com Lilia Cabral o filme ‘A Lista’ no Rio. E simplesmente aconteceu um hematoma subdural (acúmulo de sangue entre o cérebro e o crânio)”, relembra o artista, que foi internado às pressas em maio do ano ado, após ar mal em casa. “Eu tive uma convulsão, e tive que fazer a segunda cirurgia”, explica Tony.
“Quando o dr. Paulo Niemeyer Filho, meu cirurgião, falou ‘bora, vá à luta!’, eu acreditei e fui à luta”, diz, aos risos. Após a alta médica, ele retornou ao teatro - inclusive, esteve em Belo Horizonte com o espetáculo em setembro - e também as gravações do filme “A Lista”. Até que surgiu, também, o convite para ser um dos jurados da quinta temporada do “The Masked Singer Brasil”, que homenageou os 60 anos da teledramaturgia da TV Globo.
“Modéstia à parte, é ruim de tirar de mim o que eu sei de novela e o que tenho na minha memória sobre novela, né?”, se vangloria o ator, com seis décadas dedicadas ao gênero. A vida segue, segue normal”, garante, que atualmente se divide entre as gravações de “Dona de Mim” e as apresentações no teatro.
Pai, marido, empresário e… poeta 6k171a
Um dos personagens centrais de “Dona de Mim”, Abel, interpretado por Tony Ramos, é descrito como “um homem que tem alma de poeta”, que carrega um pouco de frustração por ter que abandonar seu sonho para assumir a empresa da família, a fábrica de lingerie Boaz. “Ele sempre sonhou que seria um poeta, editar um livro. E nada disso acontece. Mas ele continua lendo muito poesia, repete poesia naturalmente para os filhos, para a Filipa”, detalha o ator, citando a personagem de Cláudia Abreu, com quem Abel se casa na história.
“Ele entende a escolha para ser o presidente da companhia, estimulado pela própria mãe, Rosa (Suely Franco), que diz o que seu pai o escolheu para a presidência”, completa. “Então, Abel é impulsionado pela mãe para que o desejo do pai seja cumprido. Porém, há uma sombra, um peso terrível, porque o irmão dele, Jaques (Marcello Novaes) - muito preparado, estudou no exterior - se sente totalmente alijado desse comando da empresa familiar”, diz.
Abel teve três filhos em seu primeiro casamento: Samuel (Juan Paiva), Davi (Rafa Vitti) e Ayla (Bel Lima). Na história, ele também registra a menina Sofia (Elis Cabral) como se fosse sua filha, atendendo um pedido de Ellen (Camila Pitanga), com quem tem uma dívida: a mulher, que trabalhou na fábrica Boaz, salvou a vida do empresário e, ao descobrir que estava com câncer, pediu que ele cuidasse da filha. Esse pedido acontece no dia do casamento de Abel com Filipa. “Essa criança (Elis Cabral) é um talento absolutamente surpreendente, bonito. Ela está se divertindo”, elogia Tony.
Reencontro em cena 5b734k
Em “Dona de Mim”, Tony Ramos volta a contracenar com Cláudia Abreu, um reencontro que acontece após 20 anos - em 2005, eles atuaram juntos em “Belíssima”, onde gravaram, inclusive, na Grécia. “Reencontrar a Cláudia foi uma grande alegria”, afirma o ator, que destaca a química que há entre eles: “Cláudia é uma atriz muito inteligente, muito rápida. Eu me permito dizer que sou muito rápido, que tenho muito bom humor. Então a coisa vai fluindo com muita naturalidade”.
“Temos duas personagens muito ricas: eu vivo um homem muito mais velho que ela, viúvo, com três filhos, sendo que um deles foi adotado, e se apaixona por essa mulher eletrizante. É um temperamento muito distinto. Às vezes, em 10 minutos, a personagem da Cacau apresenta duas, três ideias e o Abel meio que fica com asma, se sufoca, não sabe como reagir, mas adora aquilo. E é isso que fez ele se apaixonar por ela”, descreve.
“Filipa é uma artista, ela canta. E ele sempre amou literatura, poesia, particularmente. Ele tem nessa mulher um grande reencontro a partir da sua viuvez. Ele tem várias frustrações, tem várias ‘quase tragédias’ que aconteceram com a vida dele. De algumas ele se sente um sobrevivente; isso vai ser explicado durante a novela. E esse homem vai despertando a cada momento”, conta Tony Ramos.