De todas as músicas que compõem “Sagrado, vol. 2”, nono álbum de estúdio de Diogo Nogueira que chega nas plataformas de streaming nesta quinta-feira (5), em somente duas o sambista não canta o “amor” literalmente. A verdade é que o sentimento permeia a obra do artista de cabo a rabo, inclusive naquelas em que a palavra não aparece ipsis litteris.
Como não dizer que uma pessoa está enebriada de amor ao cantar “E se de Jobim tirassem o Tom / De Ipanema, o Leblon / De Moacyr tirassem a Luz (...) / Penso em isso tudo só pra ver / Como eu seria sem você”? Ou quando, em “Tela Quente”, se declara à pessoa amada, cantando: “Estou louco pra contracenar com você / Nosso quarto é uma tela de televisão / Se na vida real somos artistas / Eu sou protagonista do seu coração.”
Para quem conhece minimamente a vida pessoal do filho de João Nogueira, esta última música pode parecer uma referência à atriz Paolla Oliveira, namorada do sambista há quase quatro anos. Ao ser perguntado sobre essa alusão, ele vai além: não é só esta canção, mas toda a obra tem uma “energia de Paolla.”
“Eu estava fazendo o álbum em um período em que o nosso encontro era muito recente. Então, se você parar para pensar, não é somente esta canção, mas todas as que estão no ‘Sagrado 2’ têm pitadas de influências de Paolla Oliveira”, diz em meio a um sorriso largo. “Nós estávamos muito felizes – ainda estamos, claro –, mas aquele foi o momento da explosão. Então, procurei trazer essa energia para as canções e espero que as pessoas também possam senti-la”, esperança-se.
Diogo explica que o álbum, produzido no começo do relacionamento da então musa da Grande Rio, foi dividido em duas partes. O primeiro volume, “Sagrado – Vol. 1”, lançado em 2023, tem como foco as memórias da infância do artista. “As músicas foram inspiradas nas minhas lembranças e em tudo aquilo que era sagrado para mim: as brincadeiras, a fé, a família…”, conta.
“Já a segunda parte foi concebida com uma pegada mais voltada para o amor, não apenas o de casal, mas o sentimento de forma ampla, presente em momentos de descontração, em lugares onde se pode tomar uma cerveja e estar ao lado de quem se ama”, pensa.
O artista reflete que ir para um bar pode ser entendido como profano, algo mundano. Mas se a companhia do boteco é a pessoa amada, aí o sagrado entra. “O sagrado e o profano são como exu: uma coisa só. É amar uma pessoa e sair com ela para o botequim, tomar uma cerveja, ir para uma roda de samba, para o Carnaval. A ideia do álbum foi toda focada nessa energia linda”, resume.
Foi intenção do artista também imprimir nas canções a alegria provocada pelo sublime sentimento. “Eu quis não só trazer essa coisa do amor, mas também falar dele de uma forma positiva, em vez de ser a parte sofrida, dolorida, de traições e coisas do tipo. Quis trazer a parte boa, das brincadeiras, do sorriso, algo que é pouco falado, pois o que mais se canta do amor é o sofrimento”, identifica.
Música a música 5q4k1w
Com efeito, a música que abre “Sagrado, vol. 2”, de Diogo Nogueira, joga a energia lá para o alto. Em “Já Deu Tudo Certo” (Rafael Delgado e Robinho), a labuta do dia a dia não é um fardo, mesmo cheia de perrengues, porque “o remédio melhor é a alegria.” Para dar conta de tudo com entusiasmo, o eu-lírico entrega seu corre ao culto ecumênico, no “axé, shalom, amém”, versinho que gruda na cabeça logo na primeira escuta. “A maioria dos meus trabalhos que fez sucesso está ligada à religião e a uma autoajuda.
Meu primeiro sucesso, por exemplo, foi o ‘Fé em Deus.’ Isso já parte do meu trabalho, até porque eu acho que todo artista tem uma missão para cumprir aqui na terra, e vejo que devo ar mensagens boas e positivas para que as pessoas possam entender, se identificarem, evoluírem, e, às vezes, até se levantarem. Essa música é alto-astral e fala muito sobre respeitar o outro, independentemente se ele for do candomblé, evangélico, católico, budista ou qualquer outra religião. Não poderia deixar de começar a não ser como uma música como essa”, sintetiza.
O álbum segue com “Ninguém Segura O Nosso Amor” (Peu Cavalcante/ Rodrigo Leite/ Cauique), um samba vibrante que canta aquele amor “capaz de dominar o mundo.”
Na sequência, vem “Coisas do Amor (Me Chama)” (Diogo Nogueira / Rodrigo Leite e Claudemir), que traz o encontro entre Diogo Nogueira e Sandra de Sá, única participação do álbum. Quando estava pensando na canção, o compositor tinha em mente Tim Maia e pensou que somente Sandra seria capaz de empregar o como que imaginou, porque ela tem “uma voz potente e um swing absurdo.”
“[A Sandra] foi a única voz que consegui ouvir cantando essa música que não fosse o Tim Maia. Quando a convidei, expliquei o que aconteceu, e ela topou na hora! E ficou essa maravilha”, celebra.
Em “Iluminou”, letra de “uma grande amiga”, Gabi D’Paula, que também assume o back vocal, Diogo traz uma “melodia moderna” e apimentada. Em seguida, o sambista assume um tom mais reflexivo em “Como Eu Seria Sem Você”, com letra inspirada de Thiago da Serrinha, que põe para jogo grandes referências da música brasileira e lugares conhecidos do Rio de Janeiro, como Madureira, Ipanema, Leblon e Mangueira.
“Tela Quente”, como já mencionado, parece ser uma música feita para Diogo Nogueira e Paolla Oliveira, e “Quem Dera” fecha o álbum com o tom de um amor suburbano. O subúrbio carioca, a propósito, é elemento de forte presença no álbum, marca intencional de Diogo. “O samba vem do subúrbio do Rio de Janeiro. Minha família toda, tanto a parte de pai quanto de mãe, são de lá. E apesar de eu morar na Barra da Tijuca desde que nasci, o subúrbio estava sempre presente na minha vida. Isso é uma parte importante do meu sagrado”, orgulha-se.
Sobre o processo de escolha dos compositores, Diogo diz que “peneirou” muitos até encontrar a veia “alegre e positiva” que queria para o álbum. Por conta disso, algumas faixas ficaram de fora, com a possibilidade de elas virarem material para um trabalho futuro.
Mas essa possibilidade vai ter de esperar. No ano que vem, Diogo Nogueira celebra 20 anos de carreira e vai gravar um álbum que compreenda repertório das duas décadas. O sambista não revela mais detalhes do que vem por aí, porque o que ele quer agora é que suas “canções cheguem nos corações das pessoas”, revelando, assim, a alma amorosa do disco.