O movimento de queda do dólar, visto nesta semana, não deve ser duradouro. A moeda norte-americana baixou aos R$ 5,53 nessa quarta-feira (11), um recuo de R$ 0,032 (-0,57%), chegando ao menor patamar desde outubro do ano ado. Mas no mercado financeiro, a redução é vista como um movimento de rápida duração.
O economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, istrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), Paulo Casaca, frisou que o resultado visto é fruto de uma tensão dos mercados com um possível anúncio de novas tarifas comerciais por Donald Trump, nos Estados Unidos.
O presidente norte-americano disse, nessa quarta-feira, que vai decidir nas próximas duas semanas se vai estabelecer novas tarifas, unilaterais, a outros países. “Essa queda do dólar tem a ver com essa ameaça tarifária do Trump. É muito mais um movimento de desvalorização do dólar, do que uma valorização do real, e está acontecendo com outras moedas do mundo. Os mercados estão preocupados”, disse.
O economista e consultor econômico Maykon Douglas lembrou, ainda, que a descompressão do dólar em 2025 faz parte de uma grande variação observada no ano ado. “O dólar chegou a cruzar a barreira dos R$ 6,30 em dezembro de 2024, muito em razão do forte ceticismo com a política fiscal doméstica. Não apenas pela frustração com as medidas de arrecadação do governo, mas porque estas foram ofuscadas pela proposta de aumento da faixa de isenção do IR”, relembrou.
Douglas ainda projetou “lateralização” do dólar entre R$ 5,60 e R$ 5,70 ao longo do ano. “A incerteza quanto à consolidação do ajuste fiscal pelo governo, dado o calendário apertado e a proximidade do ano eleitoral, atrapalha uma apreciação maior. Obviamente, esse cenário depende da manutenção dessa postura recente pelo governo Trump”, diz.
A estrategista-chefe da Nomad, fintech com foco em contas internacionais, Paula Zogbi, reforçou a tese de incertezas comerciais e avaliou que o cenário futuro é de cautela. “O ime em torno de medidas arrecadatórias, a ausência de propostas claras para contenção de gastos e o desconforto com o viés expansionista da política fiscal em um ano pré-eleitoral mantém o risco Brasil em evidência”, completou a economista da Nomad.
Segundo ela, a continuidade de um movimento de valorização do real dependeria, em grande medida, da postura do governo brasileiro em enfrentar a pauta fiscal com medidas eficientes, além da continuidade do movimento global. “Na nossa visão, há espaço para mais alguma valorização no curto prazo, mas não sem percalços - e o cenário continua desafiador. Estruturalmente continua sendo essencial manter exposição a ativos dolarizados para uma carteira eficiente no longo prazo”, acrescentou.
Baixa do dólar impacta a inflação?
Paulo Casaca, do Ipead, não acredita que a redução observada no dólar nos últimos dias deve representar um alívio na inflação oficial do país. “Em geral, os impactos de variação do dólar na inflação são de médio e longo prazo, e envolvem uma mudança mais estrutural”, ponderou.
O economista Maykon Douglas diz ainda que as variações do câmbio atingem, primeiro, a inflação ao produtor para, posteriormente, os efeitos serem observados pelos consumidores. “Assim como o IPCA piorou nos últimos meses com a depreciação registrada a partir do quarto trimestre de 2024, o movimento recente do real deve contribuir para baixar a inflação no curto prazo. Isto não será suficiente, por si só, para reequilibrar por completo os preços. A inflação de serviços subjacentes, mais sensível às condições de demanda, continua acima do teto da meta e precisa desacelerar mais”, complementou.