Economistas e especialistas em comércio exterior esperam receber mais detalhes sobre os anúncios feitos por Donald Trump sobre tarifas recíprocas, nesta quarta-feira (2), para entenderem melhor como vão se dar as transações comerciais entre o país mais rico do mundo e o resto do planeta. 

A tarifa geral mínima de 10% entra em vigor a partir do dia 5 de abril, enquanto as tarifas individualizadas entrarão em vigor na próxima quarta-feira, dia 9 de abril.

A ordem executiva assinada por Trump afirma que "todos os artigos importados para o território aduaneiro dos Estados Unidos estarão, de acordo com a lei, sujeitos a uma taxa adicional ad valorem de 10 por cento". Mas, ao mesmo tempo, enumera uma grande lista de exceções, sobre as quais os especialistas devem se debruçar nos próximos dias. 

Apesar do pronunciamento do presidente norte-americano, com direito a uma tabela cheia de taxas que serão cobradas a dezenas de nações, e das ordens executivas publicadas pela Casa Branca, ainda restam várias questões. A maior delas é: as taxas já adotadas serão adicionadas a uma tarifa extra de 10% ou prevalecerá a maior? 

O café brasileiro, por exemplo, que hoje chega aos Estados Unidos com uma taxa de 9% agora aria para 10% ou 19%? De acordo com Jackson Campos, diretor de relações institucionais da AGL Cargo, não está claro - embora a ordem executiva dê a entender que as tarifas poderão ser somadas. “Se ar para 19%, pode impactar (o consumidor), mas não acho que o norte-americano vai deixar de comprar por isso. quem toma café brasileiro é quem pode pagar por isso”, explica o especialista.

Para ele, a tarifa mínima de 10% imposta ao Brasil não deve atrapalhar boa parte dos os negócios já feitos com os EUA. “Sobre o que sabemos, aparentemente nosso setor do aço seria o mais prejudicado”, diz Campos.

Segundo informativo da Casa Branca, alguns bens não estão sujeitos a tarifas recíprocas e o aço e o alumínio, que já foram tarifados, não sofrerão uma nova tarifação.

Inflação é consenso

Por enquanto, o único consenso é de que o aumento de tarifas impostas por Trump vão provocar um movimento inflacionário não somente nos Estados Unidos, mas também em todo o mundo. “O aumento de preços nos EUA tende a gerar inflação no resto do mundo por conta do tamanho do mercado. Além disso, tende a haver aumento de tarifas nos outros países como retaliação, fazendo os preços subirem”, explica Paulo Casa, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, istrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead). "Toda a cadeia produtiva global vai se rearranjar, isso gera inflação também".

No futuro, se a inflação subir nos EUA, o Federal Reserve poderá aumentar a taxa de juros, pressionando o mesmo processo em outros países. “Não tá previsto isso no momento, mas quando a inflação e a expectativa de inflação subir, os bancos centrais terão de agir nesse sentido”, completa Casaca.