Os dezoito radares instalados no Anel Rodoviário de Belo Horizonte, na BR-040, entre os kms 533,2 e 544, na altura do bairro Olhos d’Água, região Oeste da capital, estão desativados desde agosto de 2024, quando a gestão do trecho ou da Via 040 para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). A falta de fiscalização há dez meses preocupa especialistas, que alertam para a possibilidade de escalada no número de acidentes em um dos pontos mais perigosos da rodovia. De janeiro a março deste ano, foram registrados 1.085 acidentes em todos os 27 quilômetros do Anel, que lidera o ranking de vias com mais acidentes em BH, segundo informações da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp).
Para o professor do Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) e especialista em segurança no trânsito, Agmar Bento, é urgente a reativação dos equipamentos. “Esta situação do Anel Rodoviário não pode permanecer por muito tempo. É preciso que o poder público se esforce para o religamento dos radares; caso contrário, há possibilidade de os acidentes aumentarem ainda mais. Os acidentes no Anel Rodoviário geralmente são graves e resultam em vítimas, e isso significa um custo alto para o poder público. A melhor opção, e mais barata, é investir na segurança.”
Bento esclarece que, estatisticamente, a maior parte dos sinistros de trânsito ocorre devido à pressa dos condutores. “O excesso de velocidade é um fator determinante para a violência no trânsito, sendo responsável por cerca de 50% das mortes em países em desenvolvimento. Para cada aumento de 1 km/h na velocidade, a incidência de sinistros com vítimas cresce em torno de 3%. E quanto maior a velocidade no momento do acidente, mais graves tendem a ser as consequências, com maior probabilidade de óbitos e ferimentos. Além disso, esse comportamento de risco gera custos elevados, como despesas hospitalares, remoção das vítimas, perda de produtividade e danos à via”, afirmou Agmar.
O especialista argumenta ainda que a inoperância dos radares é percebida pelos motoristas, que tendem a ser mais displicentes na ausência de fiscalização. “A presença do radar é algo que provoca no motorista uma atenção maior. No entanto, alguns radares do Anel Rodoviário têm o dispositivo que registra a velocidade ( luminoso) e, quando estão desligados, o motorista percebe que não há registro. Mesmo nos radares que não exibem a velocidade instantaneamente, os motoristas acabam descobrindo que eles não estão funcionando”, disse.
Os acidentes no Anel Rodoviário fazem parte do cotidiano da relações públicas Isabela Reis, de 25 anos. Há mais de dois anos, ela utiliza diariamente a rodovia para chegar ao local de trabalho e já presenciou diversos acidentes, especialmente na altura do bairro Olhos d’Água. “Vejo que as pessoas am dos limites e colocam em risco não só a própria segurança, mas também a de quem está ao redor”, disse.
Ela percebeu que a desativação dos radares agravou a situação, inclusive com aumento do uso da área de escape, principalmente por caminhões. “Fico preocupada constantemente quando vejo a velocidade com que eles am. O radar, antes, inibia alguns de ultraarem os limites da via, mas agora eles se sentem ainda mais à vontade para atingir velocidades extremas”, relata.
O analista de departamento pessoal João Victor Bicalho, de 38 anos, também precisou redobrar a atenção enquanto trafega pelo Anel Rodoviário de motocicleta para trabalhar. “Infelizmente, os radares na região do Olhos d’Água ainda continuam desativados. Eu, como motociclista, tenho que redobrar a atenção naquele trecho, pois muitos desrespeitam o limite e descem a toda velocidade. As chances de ocorrer uma fatalidade são muito grandes. Esperamos que o órgão responsável possa arrumar esses radares o quanto antes”, afirma João.
De quem é a responsabilidade? k6a5u
O trecho onde os radares estão desativados não foi incluído na nova concessão da rodovia, que deixou de ser istrada pela Via 040 e ou para a competência da EPR Via Mineira. O responsável pelo trecho é o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que informou que os radares voltarão a funcionar quando um aditivo contratual com o Programa Nacional de Controle Eletrônico de Velocidade (PNCV) for finalizado. “O DNIT informa que está em trâmite de elaboração de aditivo do contrato vigente, pelo Programa Nacional de Controle Eletrônico de Velocidade, para o retorno da operação dos equipamentos”, informou o órgão.
O trecho, no entanto, deve ser assumido pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), que trabalha para a municipalização do Anel Rodoviário — ainda sem data definida. Conforme o Executivo municipal, o processo de alienação do trecho está em andamento junto ao órgão federal, e a istração municipal só poderá assumir a operação, manutenção e conservação da via após a conclusão dessa etapa. A PBH destacou que o objetivo é adequar a infraestrutura do Anel às demandas atuais e futuras da cidade, oferecendo mais segurança e fluidez ao tráfego.
No trecho identificado pelo DNIT, há, ao todo, 18 radares inoperantes. Os equipamentos se enquadram em dois tipos distintos, conforme apresentado a seguir:
Doze Redutores Eletrônicos de Velocidade (REV): instalados em locais que demandam a redução gradativa da velocidade do tráfego, em razão de condições específicas do trecho, tais como travessias urbanas, os, proximidade de escolas, entre outros fatores que exigem maior atenção do condutor;
Seis Controladores Eletrônicos de Velocidade (CEV): destinados à fiscalização do limite de velocidade já regulamentado no trecho, sem promover alteração ou redução progressiva da velocidade permitida.
Anel Rodoviário registra o maior índice de acidentes f575o
Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) mostram que, nos três primeiros meses de 2025, a capital mineira registrou mais de 20 mil acidentes de trânsito. A média é de um acidente a cada 7 minutos — totalizando 226 por dia. As ocorrências deixaram 3.915 pessoas feridas, das quais 33 morreram.
Segundo os dados, o Anel Rodoviário de Belo Horizonte registrou o maior número de casos, com 1.085 acidentes entre janeiro e março. Em seguida, aparecem as avenidas Cristiano Machado (946), do Contorno (613) e Presidente Antônio Carlos (522).