Uma operação da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) mirou o esquema de tráfico de drogas encabeçado por bandidos do Aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, na manhã desta quarta-feira (17 de julho). A investigação identificou 21 suspeitos e suas funções, desde líderes até olheiros das bocas de fumo. Treze mandados de busca e apreensão foram cumpridos no ‘Serrão’, na comunidade ‘Pau Comeu’ (bairro São Lucas) e em quatro cidades da região metropolitana, pontos de estoque e “filiais” do tráfico. Para a compra dos entorpecentes pelos criminosos, a polícia suspeita de um envolvimento entre eles e facções nacionais e internacionais.

Ao menos 80 policiais civis adentraram nas vielas das comunidades, onde o tráfico rege as leis de trânsito e as condutas dos moradores. No ‘Pau Comeu’, em BH, um dos principais pontos controlados pelos traficantes da Serra, diversos muros estão marcados com a pichação ‘PC’. As vilas têm câmeras que monitoram qualquer entrada e saída no aglomerado. Um olheiro do tráfico no local foi preso após atrapalhar a operação, avisando os comparsas.

Também foi conduzida à delegacia a esposa de um dos suspeitos, que ficou no local do flagrante após o companheiro fugir. Conforme o delegado Rodolfo Tadeu Machado, do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), a polícia está ciente de que o Complexo da Serra avança na Grande BH, tomando o controle de pequenos grupos da capital e em Contagem, Betim, Sabará e Ribeirão das Neves.

A investigação, que ocorre há um ano, foi reforçada recentemente após a morte de ‘PH’, apontado como líder do esquema. “A Serra é um ponto estratégico e ocupa um lugar alto na hierarquia do tráfico na Grande BH. Os acusados compram grandes quantidades de drogas e desmembram o estoque entre os integrantes e pontos de estoque. A venda funciona por varejo ou atacado, dependendo da quantidade do pedido”, explica o delegado.

O tráfico do tipo atacado, segundo Machado, é direcionado para outros líderes locais das comunidades, enquanto o varejo funciona por vendas a pequenos consumidores. As entregas ocorrem, principalmente, por delivery. “Eles têm motociclistas que trabalham para essas entregas, e os pedidos ocorrem por aplicativos, desde mensagens ou de entrega”, afirma.

Polícia investiga conexão com facções nacionais e internacionais

Como não há lotes de produção de drogas em grande escala na Grande BH, a Polícia Civil investiga a conexão do tráfico no Complexo da Serra com facções criminosas de nível nacional e, até mesmo, fora do país. “A grande maioria dos entorpecentes apreendidos vem de países limítrofes, do Sul do Brasil e de canais de transporte de drogas, como a ‘rota caipira’”, diz Machado.

A rota caipira faz conexão com o crime de São Paulo, berço do Primeiro Comando da Capital (PCC). A investigação, no entanto, está focada no tráfico local até o momento. “Se a apuração apontar para essas conexões, trocaremos informação com as polícias federal e de fora do Estado”, acrescenta.

Traficantes são suspeitos de aumentar número de homicídios 

A Polícia Civil comemorou a operação desta quarta-feira ciente de que tem impacto em enfrentar a criminalidade correlacionada com o tráfico. Os suspeitos, conforme o delegado, são investigados por outros crimes violentos, como homicídios. “A disputa territorial pelo comando das bocas e a briga das organizações rivais fomentam outros crimes contra a vida. Não estamos combatendo só o tráfico de drogas, mas a criminalidade envolvida, principalmente o número de mortes relacionadas”, afirma. Machado não informou quantos homicídios estão incluídos na investigação. 

A operação apreendeu cerca de 12 kg e porções menores de maconha, cinco celulares e materiais de uso no tráfico, como uma máscara usada para esconder a identidade dos envolvidos.