A nostalgia chega para todos de alguma forma, seja por uma bala que não se encontra mais na padaria, por um brinquedo que ou de mão em mão em tardes de diversão com os amigos ou uma peça de roupa colorida que foi vestida até não caber mais. Para a publicitária Thalita Costa, de 37 anos, as memórias da infância são mais do que uma boa lembrança e se tornaram fonte de renda. Hoje, ela reúne cerca de 751 mil seguidores em diferentes redes sociais com o projeto Revira e Voltha, “um perfil que revira o baú e volta no tempo para você matar a saudade”, como ela mesma descreve.

Ela recupera brinquedos, doces e itens de material escolar de décadas atrás em vídeos com centenas de milhares de visualizações. Já ou de tudo um pouco pelas mãos dela — aliás, isso é tudo o que ela mostra de si, além da voz, já que não costuma exibir o rosto nos conteúdos. Fichários de zíper estampados com personagens de desenho animado, figurinhas do chiclete Ping Pong, Tamagotchi e teclado com bichinhos são alguns dos sucessos que ela levou ao canal.

Encontrar esses itens é um trabalho de garimpo, descreve: “procuro em lojas online, como OLX, Enjoei, Shopee, Mercado Livre, plataformas que vendem coisas usadas, e também em uma loja de São Paulo com coisas antigas em geral. Comecei comprando coisas mais baratas, de R$ 20, R$ 30, e hoje, mais caras. Nesta semana, consegui uma boneca Lu Patinadora lacrada na caixa, por R$ 300”, diz. Ela estima que gasta cerca de R$ 1.000 a R$ 1.500 mensais garimpando — agora, dois anos depois de ter iniciado o projeto, o investimento compensa, e ela tem retorno com publicidade e pagamento por views.

Quase tudo o que mostra é original, diz. Mas os alimentos, como chicletes e pirulitos que marcaram época, ela recria artesanalmente com biscuit e outros materiais. A verdadeira emoção está em encontrar raridades: “uma que me deixou muito feliz o TV Music Star, um aparelhinho de som com microfone. Ele desbloqueou minha memória. Consegui comprá-lo e, quando coloquei para tocar as músicas, consegui cantar todas no como. Fui direto para o ado”, diz.

Alguns produtos tornaram-se itens de desejo, mas têm se provado difíceis de encontrar. “Não consigo achar para comprar em lugar nenhum um ursinho de pelúcia que podia pintar com canetinha lavável e ficava limpinho de novo. Não sei o nome e não consigo encontrar na internet. Fico achando que é loucura da minha cabeça, mas sei que não é, porque tenho uma memória muito boa”, conta.

Ela assinala que a nostalgia surge de formas diferentes para cada pessoa — já que nem todos tiveram o aos mesmos brinquedos, fora a diferença de gênero que separava produtos “de menino” e “de menina”. “Cada um tem sua vivência e realidade”, reconhece. Confira, abaixo, seis produtos que Thalita já mostrou em seus vídeos e prepare-se para viajar no tempo:

1 - Tamagotchi

O bichinho digital criado em 1996 foi uma febre na fronteira entre o analógico e o digital. “Acho que o Tamagotchi foi uma inovação muito grande para aquela geração, que teve uma quebra do analógico para o digital. Minha geração começou a ver a tecnologia como ela é hoje”, reflete Thalita. Em seu vídeo sobre o brinquedo, ela deixa o bichinho morrer em 55 segundos.

Depois disso, ela também fez uma parceria paga para mostrar uma nova versão  Tamagotchi, com tela colorida e vendido por quase R$ 750 no Brasil.  

2 - Estojo de madeira

A ideia para o Revira e Voltha surgiu dos materiais escolares dos anos 90, como as canetas com ponta de borracha e diferentes estojos. “A galera tem uma memória afetiva muito grande com o estojo de madeira. Com as lancheiras também, que tinham uma diversidade de personagens, e trazem uma memória olfativa, do cheiro delas”, diz Thalita.

Ela também mostra fichários de zíper e materiais escolares mais caros que eram desejo de consumo de muita gente, como os produtos da Kipling e o estojo de lápis completo da Faber-Castell. “As pessoas falam que eu era rica, mas não, não tive 5% do que mostro, mas tenho uma memória muito boa e me lembro dos produtos”, sublinha Thalita.

3 - Chiclete Ping Pong

Thalita recorda doces icônicos, como os chiclete Ping Pong, que vinham acompanhados por figurinhas colecionáveis para colar em álbuns temáticos — sobre o Pantanal, por exemplo. No caso dos doces, como não consegue encontrar originais, ela recria o formato com diferentes técnicas e vai atrás das artes utilizadas nas embalagens para reproduzi-las. “Vou improvisando, e algumas coisas ainda existem, comos os ovinhos de dinossauro”.

4 - Brindes da Elma Chips

A diversidade de brindes da marca de salgadinhos Elma Chips também desperta a nostalgia de Thalita. No perfil, ela destaca os Tazos e outros itens colecionáveis que vinham nos pacotes. “Muitas marcas lançavam brindes. Você comprava um sapato e vinha um brinde, tínhamos as pelúcias da Parmalat, o ioiô da Coca-Cola e da Fanta...”, lembra.

Já os Pokémons que acompanhavam a garrafa “caçulinha” do Guaraná Antarctica nos anos 2000 são um dos pedidos comuns dos seguidores, mas ainda não apareceram no canal.  

5 - Sandália transparente da Melissa

Um dos maiores sucessos da moda infantil destacados por Thalita é a Melissa transparente, especialmente quando era combinada com meias coloridas.

6 - Nokia “tijolão”

A maioria das pessoas pode até assistir aos vídeos do Revira e Voltha na tela de um celular moderno, mas os aparelhos que Thalita exibe nos vídeos estão longe dessa modernidade. Em um deles, ela exibe um Nokia 5110, o “tijolão” que encantou uma geração com o “jogo da cobrinha” (originalmente, chamado “Snake”).

Sem a infinidade de utilidades dos celulares de hoje, ele pelo menos encantava com uma capinha destacável com várias estampas. Thalita também relembra o Motorola V3, cuja câmera frontal prenunciou a selfie: “ele também revolucionou por ser um celular colorido, como o rosa-choque”.